segunda-feira, 7 de abril de 2008

Dia Nacional dos Moinhos

O Vento e o Moleiro
Estávamos em meados de Dezembro daquele mau ano de 1947. Aproximava-se o Natal e começava a sentir-se a procura de farinha para com ela se confeccionarem as tortas e os filhós, únicas guloseimas das famílias de então.
O Zé Moleiro ia, com dificuldade, satisfazendo as encomendas, transformando o milho que os fregueses lhe levavam para moer. Todo o ano ao laré e agora tudo de afogadilho.
- Quando é que venho buscar a farinha T’Zé?
- Olha menina vai depender do vento. Talvez amanhã por esta hora, à noitinha.
Não podia dizer que estava p’ra ali cheio de milho e que ela não tinha vez. A constar-se iam a outro. Moleiros era o que mais havia. Por isso aceitava mais esta encomenda e fosse o que Deus quisesse.
- Porque é que não disseste logo à cachopa que no podias? Perguntou-lhe a sua Alice quando ele fechou a porta.
- Ora, porque é que não lhe disse?! Porque não. Depois se vê.
- Anda, come a sopa p’ra t’ ires deitar, continuou a Ti Alice.
O T’ Zé comeu o prato da sopa, bebeu um copo e espetou com o garfo o pedaço de toucinho que mastigou com um naco de broa. Ajudou com mais um copo.
– Anda vai. Leva o candeeiro que eu vejo bem. Quando estiveres deitado vou-to buscar p’ra lavar a loiça.
- Acaba de comer, raio. Já vou. – Disse enfadado o T’ Zé.
Como muitas outras, aquela não foi uma noite sossegada. Pelas frestas das janelas e porta da sua pobre casa, entrava um vento forte cujo silvo o acordara.
Abriu os olhos e pôs-se à escuta: - Granda Nortada - pensou.
- Ó Lice tás a oivir?
- Tou.
- Que horas devem ser?
- Inda à bocado bateram 3. – disse a Alice.
- Atão no estavas a dormir!
- Já estou acordada à muito tempo. Só agora é que oivistes?
- Vou-me embora. Vou aproveitar. No está a chover, poi não?
- Não. Agasalha-te. O barrete está em cima do banco.
O T’Zé acendeu o candeeiro, vestiu-se e foi ao curral. A burra soltou um Brrrr, como a dizer que sim e deixou-se aparelhar.
Meteu dois sacos um em cada pernil do ceirão e outro sobre o lombo da burra que puxou para fora do curral.
A noite era de breu e o frio de rachar. Enfiou o barrete até às orelhas e seguiu serra acima atrás da burra em direcção ao moinho.
- Arre burra, dizia em voz de surdina. Olhou em redor. Nada, não via nada a não ser por breves momentos quando a Lua se descobria.
No caminho, a casa do David, depois a dos Cotos mas gente àquela hora e com tal tempo, nem vivalma.
Só se ouvia aquele bendito vento de Nordeste que fazia balançar e ranger os pinheiros bravos da serra e se introduzia pela camisa adentro, passava a pele e lhe ia até aos ossos. – C’um cassete.
Chegou. Descarregou a burra. Tirou o milho e o ceirão para dentro do moinho, foi-se à tranca e virou o moinho para Nordeste. Depois foi soltar as velas. Deu pouco pano para não partir o mastro. Prendeu uma verga ao cabresto e foi levantar a mó.
Encheu meio tegão de milho e soltou a corda, libertando as vergas que a custo seguravam as velas.
Em segundos a antrosga rugiu. Baixou a pedra lentamente e foi apalpando a farinha corrigindo a altura da mó andadeira até ao ponto ideal de moagem. Não a queria muito fina. O Farelo tinha que ficar na peneira porque as galinhas também tinham que comer.
Agora era o som das mós a roçarem-se moendo, moendo. Todo o moinho vacilava, tal era a rotação do engenho. Aquele vento era uma bênção.
- É r’paz o carreto nem se vê. Deus queira que t’aguentes até de manhã.
Enfiou um pouco mais o barrete e veio cá fora desfrutar daquele bendito vento e do rodar das velas a meio pano.
– Ninguém o íria bater naquela noite. O Manel Costa havia de ficar cheio de inveja.
Lá dentro, o cadelo vibrava, o chamadouro saltava e o milho ia caindo do tegão no olho da mó andadeira desfazendo-se em branca farinha e deixando um característico cheiro a amido.
Uma palmada no cambeiral fez sair uma lufada de farinha acumulada no interior que quase encheu a tulha.
Abriu mais o tempero da quelha para cair mais milho. A mó andadeira estava imparável. Tragava tudo.
Quando encheu o primeiro saco foi descansar sobre o ceirão.
Adormeceu de imediato, embalado pelo moinho vacilante e pelo cantar do vento.
Sobre a manhã, apareceu com o pequeno almoço a sua Alice. O vento tinha amainado.
- Atão? Quantos alqueires já moestes? E dobrando-se para a frente ia dispondo sobre a tulha, a toalha, dois pratos, um naco de broa e a fritura de toucinho, chouriço, ovo e muita cebola.
O T’ Zé, não respondeu. Sorrateiro, veio por detrás dela, poisa-lhe um braço sobre as costas, obrigando-a a vergar-se ainda mais ao mesmo tempo que com o outro braço a puxa pelo ventre para si.
- Raio. Gemeu a Alice com a cabeça sobre os pratos, apoiando-se com os cotovelos sobre a tulha.
Não havia nada a fazer. O Ti Zé, mantinha-a abraçada por detrás. Enérgico, desceu o braço para a perna e subiu-lhe a saia, pondo a descoberto as alvas nádegas da mulher. Depois, com suaves movimentos e flectindo um pouco as pernas, procurou a posição.
A Alice contrariada, discreta, ajudava gingando e empurrando-se para trás, colando-se mais a ele, ao mesmo tempo que com uma das mãos segurava os peitos que soltos, balançavam, balançavam.
- Assim, assim, disse ele e cachimbo-a mesmo ali.
- Ai! Ai! Lice! Disse ofegante e empurrando profundamente..
- Raio do homem, No querem lá ver? Come anda, quero-me ir embora. – diz a Alice compondo a saia e aninhando os fartos seios na apertada blusa preta.
JC (2008 Abr 05)

Texto escrito e enviado via email, pelo amigo JC. O "Moinho" está grato por esta "lembradura", no seu dia nacional.


E, como o prometido é devido, aqui vai uma foto do moinho de Vila Verde, mesmo sem velas abertas. Em cima, um moinho de Vila Verde antigo, penso que o último a desaparecer....

3 comentários:

Anónimo disse...

mesmo sem velas o nosso moinho e bonito de se ver queiram ou nao queiram mas o nosso moinho esta la em cima e precisa de ser visto e de dar voltas com as bonitas velas que tem obrigado por poder voltar a ver o moinho neste blog

Anónimo disse...

Este moleiro não é o unico, pois segundo se conta no moinho haverá muitos moleiros durante a noite a moer farinha nelas

Anónimo disse...

afinal o nosso moinho hoje no seu dia nacional esteve aberto com este temporal e lembraram-se dele tambem espero que sim pois e um monumento que temos na terra e precisa de ser lembrado