Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o espeldor
E não saber sequer se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo,as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
Florbela Espanca
O dia 21 de Março foi proclamado Dia Mundial da Poesia na 30 ª sessão da Conferência geral da Unesco em Paris, em 1999.
2 comentários:
Aqui vai o meu contributo com os votos de uma Páscoa feliz.
Dor de Alma
Meu pratinho de arroz doce
polvilhado de canela;
Era bom mas acabou-se
desde que a vida me trouxe
outros cuidados com ela.
Eu, infante, não sabia
as mágoas que a vida tem.
Ingenuamente sorria,
me aninhava e adormecia
no colo da minha mãe.
Soube depois que há no mundo
umas tantas criaturas
que vivem num charco imundo
arrancando arroz do fundo
de pestilentas planuras.
Um sol de arestas pastosas
cobre-os de cinza e de azebre
à flor das águas lodosas,
eclodindo em capciosas
intermitências de febre.
Já não tenho o teu engodo,
Ó mãe, nem desejo tê-lo.
Prefiro o charco e o lodo.
Quero o sofrimento todo,
Quero senti-lo, e vence-lo.
Vem depressa, ó Primavera,
Que estamos á tua espera!
Vejo dispostos os teares
E armados os bastidores,
Que são para tu bordares,
A oiro do sol e a cores,
Charnecas, várzeas, pomares,
Árvores novas e velhas,
De folhas verdes e flores,
Que dão o mel as abelhas
E alegria aos lavradores…
Vem depressa, ó Primavera,
Que estamos à tua espera!
Livro de leitura da Segunda Classe.
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