terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Os


fantasmas

Esta

coisa

de

escrever

crónicas

“é

um

jogo

permanente

entre

o

estilo

e

a

substância”.

Uma

luta

entre

“o

deboche

estilístico”

do

gozo

da

escrita

e

“a

frieza

analítica”

do

pensamento

do

cronista.

Por

isso,

enquanto

cidadão,



posso

ver

este

governo

como

uma

verdadeira

praga

bíblica

que

caiu

sobre

um

povo

que

o

não

merecia.

Mas,

enquanto

cronista,

encaro-­‐

o

como

uma

dádiva

dos

céus,

um

maná

dos

deuses,

“um

harém

de

metáforas”,

uma

verdadeira

girândola

de

piruetas

estilísticas.

Tomemos

como

exemplo

o

ministro

Gaspar.

Licenciado

e

doutorado

em

Economia,

fez

parte

da

carreira

em

Bruxelas

onde

foi

director

do

Departamento

de

Estudos

do

BCE.

Por

cá,

passou

pelo

Banco

de

Portugal,

foi

chefe

de

gabinete

de

Miguel

Beleza

e

colaborador

de

Braga

de

Macedo.

É

o

actual

ministro

das

Finanças.

Pois

bem.

O

cronista

olha

para

este

“talento”

e

que



nele?

Um

retardado

mental?

Uma

rábula

com

olheiras?

Um

pantomineiro

idiota?

Não

me

compete,

enquanto

cidadão,

dar

a

resposta.

Mas

não

posso

deixar

de

referir

a

reacção

ministerial

à

manifestação

de

15

de

Setembro

que,

repito,

adjectivava

os

governantes

onde

se

inclui

o

soporífero

Gaspar,

como

“gatunos,

mafiosos,

carteiristas,

chulos,

chupistas,

vigaristas,

filhos

da

puta”.

Pois

bem.

Gaspar

afirmou

na

Assembleia

da

República

que

o

povo

português,

este

mesmo

povo

português

que

assim

se

referia

ao

seu

governo,

“revelou-­‐se

o

melhor

povo

do

mundo

e

o

melhor

activo

de

Portugal”!

Assumpção

autocrítica

de

alguém

que

também

é

capaz

de,

lucidamente,

se

entender,

por

exemplo,

como

um

“chulo”

do

país?

Incapacidade

congénita

de

interpretar

o

designativo

metafórico

de

“filhos

da

puta”?

Não

me

parece.

Parece-­‐

me

sim

um

exercício

de

cinismo,

sarcástico

e

obsceno,

de

quem

se

está

simplesmente

“a

cagar”

para

o

povo

que

protesta.

A

ser

assim,

julgo

como

perfeitamente

adequado

repetir

aqui

uma

passagem

de

um

texto

em

forma

de

requerimento

“poético”

de

1934.

Assim:

“A

Nação

confiou-­‐

-­‐

lhe

os

seus

destinos?...

/

Então,

comprima,

aperte

os

intestinos.

/

Se

lhe

escapar

um

traque,

não

se

importe…

/

Quem

sabe

se

o

cheirá-­‐

lo

nos



sorte?

/

Quantos

porão

as

suas

esperanças

/

Num

traque

do

ministro

das

Finanças?...

/

E

quem

viver

aflito,

sem

recursos

/



não

distingue

os

traques

dos

discursos.”

Provavelmente

o

sr.

ministro

desconhecerá

a

história

daquele

gajo

que

era

tão

feio,

tão

feio,

que

os

gases

andavam

sempre

num

vaivém

constante

para

cima

e

para

baixo,

sem

saber

se

sair

pela

boca

se

pelo

ânus,

dado

que

os

dois

orifícios

esteticamente

se

confundiam.

Pois

bem.

O

sr.

ministro

é

o

primeiro,

honra

lhe

seja

concedida,

que



confunde

os

traques

com

os

discursos.

Os

seus.

Desta

vez,

o

traque

saiu-­‐lhe

pelo

local

de

onde

deveria

ter

saído

o

discurso!

Ou

seja

e

desculpar-­‐me-­‐ão

a

grosseria

linguística,

em

vez

de

falar,

“cagou-­‐se”.

Para

o

povo

português.

Lamentavelmente.

Outro

exemplar

destes

políticos

que

fazem

as

delícias

de

um

cronista

é

Cavaco

Silva.

Cavaco

está

politicamente

senil.

Soletra

umas

solenidades

de

circunstância,

meia-­‐dúzia

de

banalidades

e,

limitado

intelectualmente

como

é,

permanece

“amarrado

à

âncora

da

sua

ignorância”.



neste

contexto

se

compreende

o

espanto

expresso

publicamente

com

“o

sorriso

das

vacas”,

as

lamúrias

por

uma

reforma

insuficiente

de

10

mil

euros

mensais,

a

constante

repetição

do

“estou

muito

preocupado”

e

outros

lugares-­‐comuns

que

fazem

deste

parolo

de

Boliqueime

uma

fotocópia

histórica

de

Américo

Tomás,

o

almirante

de

Salazar.



o

escrevi

aqui

várias

vezes.

Na

cabeça

de

Cavaco

reina

um

vácuo

absoluto.

Pelo

que,

quando

fala,

balbucia

algumas

baboseiras

lapalicianas

reveladoras

de

quem

não

pode

falar

do

mundo

complexo

em

que

vivemos

com

a

inteligência

de

um

homem

de

Estado.

Simplesmente

porque

não

a

tem.

Cavaco

é

uma

irrelevância

de

quem

nada



a

esperar,

a

não

ser

afirmações

como

a

recentemente

proferida

aquando

das

comemorações

do

5

de

Outubro

de

que

“o

futuro

são

os

jovens

deste

país”!

Pudera!

Cavaco

não

surpreenderia

ninguém

se

subscrevesse

por

exemplo

a

afirmação

do

Tomás

ao

referir-­‐

se

à

promulgação

de

um

qualquer

despacho

número

cem

dizendo

que

lhe

fora

dado

esse

número

“não

por

acaso

mas

porque

ele

vem

não

sequência

de

outros

noventa

e

nove

anteriores…”

Tal

e

qual.

Termino

esta

crónica

socorrendo-­‐

me

da

adaptação

feliz

de

um

aforismo

do

comendador

Marques

de

Correia

e

que

diz

assim:

“Faz

de

Gaspar

um

novo

Salazar,

faz

de

Cavaco

um

novo

Tomás

e

canta

ó

tempo

volta

para

trás”.

É

que



falta

mesmo

isso.

Que

o

tempo

volte

para

trás.

Porque

Salazar

e

Tomás



os

temos

por

cá.

P.S.:

Permitam-­‐me

a

assumpção

da

mea

culpa.

Critiquei

aqui

violentamente

José

Sócrates.

Mantenho

o

que

disse.

Mas

hoje,

comparando-­‐o

com

esse

garotelho

sem

qualquer

arcaboiço

para

governar

chamado

Passos

Coelho,

reconheço

que

é

como

comparar

merda

com

pudim.

Para

Sócrates,

obviamente,

a

metáfora

do

pudim.

Sinceramente,

nunca

pensei

ter

de

escrever

isto.

Luís

Manuel

Cunha

Professor

In

“Jornal

de

Barcelos”

de

10.10.2012

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